segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Tempestade



A tempestade filtra a luminosidade
que se escapa do céu do deserto
abafa o estrondo da pólvora
dos disparos das tuas palavras
chamando-me à razão

Suplico pelo teu silêncio
e recolho-me num redunto bafiento
protegido da catarata que se despenha
apenas por uma chapa de zinco
onde mal cabem as minhas aflições

Água abençoada que ameças cair
da pele negra que cobre o céu,
das nuvens centrifugadas pelo vento
que ao longe fustiga a fria lâmina
de gelo afiado

ninfa ensonada, despertas
[os olhos claros]
ergues-te e espantas o sono
acendes as luzes da cidade,
dispersas as cinzas da tempestade
e calas o zumbido dos moscardos

[Impacientes]
em partir à conquista dos invísiveis
redutos das ruas que dormem;
ao fundo alguém chora e outrem ri
enquanto descobre as cores garridas
reflectidas no gume do céu

debaixo do qual me abrigo
ante a fúria das cores
à espera de melhores dias