quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Cemitério



Olho a pedra nua, morta, sem cor
arte deserta, forma fria
ao entardecer vergo os ombros
sob a chuva miúda, ajeito a gola
e caminho em direcção ao portão enferrujado
.
O cheiro denso e pesado da terra
ergue-se no ar e confunde-se
com os instantes da minha crueldade
converte-me num sarcófago
com o remorso da tua infelicidade
.
Queria dar-te tudo
quero dar-te tudo e mais ainda
molhado como estou, viúvo
sobre quem recaiu o peso do teu nome,
estás presente [em mim] como ninguém
.
Só eu sei o que te amo,
o que te amei, pequena corça,
o quanto choro o teu retrato sem cor
impresso por mim quando só em ti
encontrava força para a vida
.
Contigo fui cruel, não aprendi as cores
porque os meus olhos limitados
apenas viam o cinzento que detestavas
enquanto te afundava no meu oceano tolo
de homem sem alma de poeta
.
[agora]
Choro num túmulo de pedra
e imploro à morte que me leve
ao teu encontro