sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Abandono



O tempo escreve dia após dia
na rocha, na areia, a nossa história,
sedimenta cada lágrima de ti que deste
cada gota de mim que se esvaiu

mergulho agora nas raízes de mim profundo
na rocha, na areia, na memória
onde se enterra o punhal da partida
da vida que só por ti ainda existe

o tempo risca dia após dia,
o impossível adormecimento
a indignidade dos sinos que dobram
pela certeza do teu perecimento

sou agora um corredor sombrio
onde [se] refugiam as sombras do esquecimento
dobram os sinos sem dignidade
sem esperança no renascimento

pelo amor que tinha por eterno
pelo fino fio carmim que me prende à vida
não há dignidade nem esperança
no perecimento do amor

abandono de sombras e cinzas
engano de quem mal tão mal vê
desapareço por fim e liberto-te da tirania
de amares quem não merece